Formar a Formação no Treino do jovem Guarda-Redes- Luvas e Frangos, por Tozé Cerdeira


Nesta minha aventura pela formação como coordenador do treino de Guarda-Redes, tenho-me vindo a aperceber o quanto continua a ser limitada a ideia que os treinadores de formação têm em relação ao treino (específico e integrado) dos seus Keepers.

A formação é uma etapa fundamental para todos os jogadores de futebol, mas mais ainda para a nossa posição, pois é nestes primeiros anos que apreendemos aspetos básicos, que vão ser os alicerces de toda a nossa formação.

Estando nesta atividade de uma forma apaixonada, mas também lúcida, não consigo entender que se façam treinos de hora e meia, onde se utilizam os Guarda-Redes somente nos últimos 15 minutos ou mesmo não os utilizando. Muitos dizem que nestas idades o mais importante é trabalhar as técnicas de base, concordo, mas também acho muito importante treinar o espaço, treinar os tempos de saída, treinar a tomada de decisão... E este tipo de ações só se treina, na sua plenitude, no treino integrado, onde existe a complexidade do espaço e do tempo condicionados pela presença dos colegas (adversários).

O menino Guarda-Redes precisa, desde cedo, sentir a paixão pela baliza e essa paixão torna-se mais forte se houver interesse, carinho e feedbacks da parte de quem o lida. É importante para o Guarda-Redes sentir que quem manda está atento ao seu trabalho e à sua evolução. Existem treinadores de formação que ainda olham para o Guarda-Redes com o "órgão fora do corpo".

Fui Guarda-Redes durante 22 anos, e durante toda minha carreira tive poucos treinadores de Guarda-redes de qualidade. Muitas vezes era o adjunto do treinador principal que nos aquecia com uns remates. Isto, vem a propósito de presenciar um treinador principal de um escalão da formação a dar treino aos seus Guarda-redes, tendo, a equipa em causa, 3 treinadores dessa posição específica à sua disposição. Algo que não entram na minha cabeça.

Precisamos de alterar comportamentos, precisamos de alterar atitudes mas mais importante, precisamos de mudar mentalidades. RAPIDAMENTE. Tenho a certeza absoluta que os clubes têm tido uma maior preocupação em criar condições de evolução aos seus jovens Guarda-Redes, dando-lhes matéria humana para os ensinar nesta fase tão importante da sua evolução. Não tenho dúvidas que é na qualidade de quem trabalha na formação que se tem de investir, ou seja, arranjar forma de os cativar com salários apetecíveis e condições de treino que possam deixar por em prática o que cada treinador idealiza para a sua equipa e para os seus Guarda-Redes. Mas, tem de haver uma certa filtragem de qualidade, tanto de quem os lida, como de quem os treina de uma forma mais específica. Precisamos e devemos ter mais cuidado com quem treina na formação, pois não é qualquer um que sabe formar. Cada vez tenho mais a certeza que para treinar na formação tem de se ter um conjunto de aptidões específicas e por isso diferentes.

Para terminar deixo uma frase que partilho com amigos...É PRECISO FORMAR A FORMAÇÃO!!!!!

Perfil do treinador O Mundo dos Guarda-Redes

- Tozé Cerdeira (1971/01/14), coordenador do treino de guarda-redes na formação do Estoril Praia

- Ex-treinador de guarda-redes de Beira-Mar, CD Trofense, Naval, Olivais e Moscavide e Estoril Praia (escalão sénior)

-Ex-guarda-redes de Portimonense, Rio Ave, Nacional, Machico, Leça, Salgueiros e Fátima