Os Guarda-Redes Estrangeiros em Portugal - por Rogério Azevedo - A Bola



Nas páginas centrais, no espaço "A Bola ao Centro", no diário, escreve o jornalista Rogério Azevedo, duas páginas de "Os grandes estrangeiros nas balizas de Portugal", numa peça de distinção lançada a propósito da chegada de Júlio César ao Benfica e, inclusive, o jornalista nomeia três quadros: os "grandes guarda-redes estrangeiros que jogaram em Portugal", os "bons" e os "flops."

Nas próximas linhas pode ler o artigo na íntegra.

"TALVEZ o primeiro grande guarda-redes estrangeiro a jogar em Portugal tenha sido o brasileiro Jaguaré Bezerra de Vasconcelos (no Sporting entre 1935 e 1936). Porém, talvez tenha sido o húngaro Béla Andrasik (no FC Porto entre 1940 e 1942). Ou mesmo o húngaro Mihaly Siska (no FC Porto entre 1924 e 1932). Há, pois, um enorme TALVEZ a pairar sobre estes três bons guarda-redes. Seguiu-se prolongado hiato de quase 40 anos até que, no verão de 1981, aterrou em Lisboa, para o Sporting, o húngaro Ferenc Meszaros. O primeiro grandíssimo guarda-redes estrangeiro a jogar em Portugal. O último, claro, é o brasileiro Júlio César.

Meszaros: 1981

Meszaros, presente no Mundial-1978, realizado na Argentina (1 jogo com a Itália, 1-3, ainda como suplente de Gujdar), chegou a Portugal com 31 anos, vindo do Vasas de Budapeste por 7 mil contos. Alto, magríssimo, enorme bigode, longa cabeleira e brincalhão, fez dois grandes anos no Sporting, onde ganhou tudo, passando ainda por Farense e V. Setúbal. Quando recordamos a grande equipa leonina do início dos anos 80, com Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão, esquecemos, muitas vezes, o nome de Meszaros. E é injusto.

Mlynarczyk : 1986

Cinco anos depois da chegada de Meszaros, em janeiro de 1986, outro grande nome chegou para as balizas portuguesas, desta vez para o FC Porto: o polaco Jozef Mlynarczyk. Dera nas vistas no Mundial-1982 quando, ao lado de jogadores como Zmuda, Smolarek, Lato, Szarmach ou Boniek, arrancou um 3,.º lugar em Espanha, com a Polónia apenas superada por Itália e Alemanha. Estreou-se nas redes portistas, vindo dos franceses do Bastia, no Estádio da Luz (4 de janeiro de 1986, 0-0), onde mostrou enorme categoria. Logo nessa temporada ganhou o campeonato e, na seguinte, seria determinante na conquista da Taça dos Campeões Europeus pelo FC Porto. Saiu do FC Porto com oito troféus: 1 Taça Intercontinental, 1 Taça dos Campeões Europeus, 1 Supertaça Europeia, 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças Cândido de Oliveira. Tal como com Meszaros, muitas vezes se esquece o nome de Mlynarczyk quando se fala do grande FC Porto do final da década de 80, o FC Porto de Madjer e Futre, por exemplo.

Rodolfo Rodriguez: 1988

O final da década de 80 trouxe a Portugal mais três belíssimos guarda-redes: o uruguaio Rodolfo Rodriguez (Sporting), o búlgaro Boris Mihaylov (Belenenses) e o croata Tomislav Ivkovic (Sporting). O primeiro, 32 anos, jogador do Santos, ganhara quase tudo na América do Sul (3x campeão uruguaio, 1xTaça dos Libertadores, 1xTaça Intercontinental, 1xCopa América). Esteve no Mundial-1986, embora não tendo participado em nenhum dos três jogos do Uruguai. Não teve, porém, sorte no Sporting. O clube leonino atravessava (mais uma) grande crise e por isso, mas também pela presença de Damas, depressa Rodolfo Rodriguez retornou à América do Sul.

Mihaylov: 1989

Quando Rodriguez arrancou para o Uruguai, o búlgaro Boris Mihaylov chegou para o Belenenses. Estávamos em 1989 e o ex-Levski de Sofia já participara no Mundial-1986 (4 jogos), ao lado de jogadores que em breve estariam a jogar em Portugal: Zdravkov, Sadkov, Mladenov e Gospodinov. Mihaylov não foi inteiramente feliz, alternando grandes jogos e grandes defesas com exibições menos conseguidas, não fazendo jus ao percurso que tivera na Bulgária. Três anos depois, porém, no Mundial-1994, capitaneou a sua seleção ao 4.º lugar, ao lado de Kostadinov, Balakov, Iordanov e Stoitchkov, entre outros.

Ivkovic: 1989

O búlgaro Boris Mihaylov defrontou, em Portugal, o croata Tomislav Ivkovic. Este chegou a Alvalade em 1989 e garantiu, desde logo, a titularidade. Entrou no coração dos sportinguistas quando, logo em setembro desse ano, defendeu uma grande penalidade do astro Diego Maradona, feito que repetiria, meses depois, no Mundial-1990. Era muito bom guarda-redes, mas, tal como Mihaylov, era capaz de grandes jogos e de grandes frangos. Jogaria ainda do Estoril, Belenenses, V. Setúbal e Est. Amadora.

Preud’homme: 1994

No verão de 1994, na sequência de grandes exibições no Mundial dos Estados Unidos, onde foi considerado o melhor guarda-redes da competição, o belga Michel Preud’homme chegou para o Benfica. Tinha 35 anos e muita gente torceu o nariz, por causa da idade, à contratação de Preud’homme. Bem depressa se arrependeram de terem duvidado. O belga arrancou extraordinárias exibições ao longo de cinco anos na Luz e, entre 1994 e 1999, quase sempre eram dois e mais nove: Preud’homme, João Vieira Pinto e os outros. Só ganhou uma Taça de Portugal pelo Benfica (1995/96), pois teve o azar de ter jogado no pior período dos encarnados dos últimos largos anos.

Seguir-se-iam três guarda-redes de grande qualidade: o belga Filip de Wilde (32 anos) para o Sporting, o russo Serguei Ovchinnikov (28 anos) e o alemão Robert Enke (22 anos), ambos para o Benfica. Nenhum deles, no entanto, ganharia alguma prova nestes clubes. O russo só ganharia quando, entre 2000 e 2002, ganhou duas Taças de Portugal e uma Supertaça Cândido de Oliveira pelo FC Porto.

Peter Schmeichel: 1999

Ao mesmo tempo de Robert Enke, no verão de 1999, chegou a Portugal, para o Sporting, o mais mediático guarda-redes estrangeiro: o dinamarquês Peter Schmeichel (35 anos). Currículo quase infinito de títulos: 3x campeão, 1xTaça e 1x supertaça (Brondby), 5x campeonatos, 3xTaças, 1xTaça da Liga, 1xSupertaça, 1xChampions e 1xSupertaça Europeia (Manchester United) e 1xCampeonato da Europa (Dinamarca-1992), além de inúmeros prémios individuais. Talvez até hoje, depois de ter contratado Bosnich, Taibi, Barthez, Howard , Carroll, Van der Sar ou de Gea, por exemplo, o Manchester United ainda suspira por Schmeichel. Tal como os sportinguistas o farão, lembrando-se de que, em 2000, após 18 anos de jejum, o clube conquistou o campeonato nacional. E quem foi o dono absoluto da baliza? Peter Bolesław Schmeichel.

Helton e Benaglio: Século XXI

O século XXI trouxe bons guarda-redes estrangeiros ao futebol português, mas raros foram os que atingiram patamar superior. É o caso do brasileiro Helton (UD Leiria e, sobretudo, FC Porto), do suíço Diego Benaglio (Nacional) e do esloveno Oblak. O primeiro ganhou todos os troféus pelos dragões, o segundo fez trampolim para o futebol alemão e esteve presente em três Mundiais (2006, 2010 e 2014, no primeiro sempre como suplente), o terceiro fez belíssima época no Benfica e arrancou para o At. Madrid. Deixou saudades e 16 milhões nos cofres encarnados. Para o seu lugar chega agora o brasileiro Júlio César, 34 anos: 5xcampeão de Itália, 3xTaça de Itália, 4xSupertaças italianas, 1xLiga dos Campeões, 1xMundial de Clubes, 1xCopa América, 2xTaçasa das Confederações, 80 internacionalizações A.

Grandes guarda-redes estrangeiros que jogaram em Portugal

  • De Wilde (Bélgica - Sporting)
  • Diego [Benaglio] (Suíça - Nacional)
  • Enke (Alemanha - Benfica)
  • Helton (Brasil - UD Leiria/FC Porto)
  • Ivkovic (Croácia - Sporting/Estoril/V. Setúbal/Belenenses/Estrela da Amadora)
  • Meszaros (Hungria - Sporting/Farense/V. Setúbal)
  • Mihaylov (Bulgária - Belenenses)
  • Mlynarczyk (Polónia - FC Porto)
  • Ovchinnikov (Rússia - Benfica/Alverca/FC Porto)
  • Preud'Homme (Bélgica - Benfica)
  • Schmeichel (Dinamarca - Sporting)
  • Oblak (Eslovénia - Benfica/UD Leiria/Rio Ave)

Bons guarda-redes estrangeiros em Portugal

  • Acácio (Brasil - Tirsense/Beira-Mar)
  • Artur (Brasil - SC Braga/Benfica)
  • Andrasik (Hungria - FC Porto)
  • Bracali (Brasil - Nacional/FC Porto/Olhanense
  • Everton (Brasil - Marítimo)
  • Fabiano [Freitas] (Brasil - Olhanense/FC Porto)
  • Hubart (Bélgica - Boavista/E. Amadora)
  • Jaguaré (Brasil - Sporting/A. Porto/Leça)
  • José Carlos (Brasil - Felgueiras/Farense/V. Guimarães)
  • Lemajic (Montenegro - Farense/Boavista/Sporting/Marítimo)
  • Marco Aurélio (Brasil - Farense/Rio Ave/Belenenses)
  • Mihaly Siska (Hungria - FC Porto)
  • Palatasi (França - Beira-Mar/V. Guimarães/Moreirense/Penafiel)
  • Pudar (Croácia - Sp. Espinho/Boavista)
  • Rodolfo Rodriguez (Uruguai - Sporting)
  • Rufai (Nigéria - Farense/Gil Vicente)
  • William (Nigéria - Boavista/Farense)
  • Yannick (França - Naval/Alverca/Benfica/Estoril)

Os maiores "flops"

  • Borota (Croácia - Portimonense/Boavista/FC Porto)
  • Bossio (Argentina - Benfica/V. Setúbal)
  • Carlos Germano (Brasil - Penafiel)
  • Eriksson (Suécia - FC Porto)
  • Katzirz (Hungria - Sporting)
  • Kralj (Croácia - FC Porto)
  • Wosniak (Polónia - FC Porto/SC Braga)"


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