Entrevista a Rui Rêgo, guarda-redes do Beira-Mar


Rui Manuel Castanheira Rêgo, nasceu há 34 anos na cidade atlântica mais a Norte de Portugal, Viana do Castelo. Aí cresceu um dos históricos das balizas de Lusas.

Do aguçar da paixão pela arte de defender as balizas do Vila Fria, à paixão acrescida ao ver o tio exemplar Cândido Rêgo, até ao SC Braga foi uma questão de tempo, sendo um dos poucos jogadores da história dos nossos campeonatos a ter jogado em todas as divisões. Das distritais às profissionais.

São mais de 30 anos a colocar-se debaixo da trave e a sujeitar-se às maiores ofensas adversárias, criando um nome de respeito por onde passou. São precisas duas mãos para contar as experiências clubísticas de Rui Rêgo: Vila Fria, SC Braga, FC Marco, Valenciano, FC Felgueiras, GD Torre de Moncorvo, Atlético Clube Valdevez, FC Lixa, GD Chaves e, desde 2010, calcando os relvados do Municipal de Aveiro, ao serviço do SC Beira-Mar.

Roberto Rivelino e O Mundo dos Guarda-Redes procuraram saber mais sobre Rui Rêgo.

Roberto Rivelino: Quem foi o grande impulsionador das suas qualidades técnicas?
Rui Rêgo: Na minha carreira a primeira pessoa que me ensinou tudo o que sabia, e que era muito, sobre guarda redes foi o meu tio Cândido Rêgo. Foi, sem dúvida, o meu ídolo de infância e era dele que tirava tudo para aprender os segredos da baliza. Não me esqueço dos treinos que ia ver ao Estádio das Antas quando ele jogava no FC Porto. Por isso, ele foi sem dúvida o meu melhor professor e foi com ele que aprendi muito daquilo que ainda hoje eu sei. 

Imagem @MaisFutebol

RRAssim que terminar a sua carreira, quais são os objectivos que pretende seguir?
Rui Rêgo: É claro que, com o passar do tempo e com o fim da carreira a aproximar-se, começa-se a pensar nisso com mais insistência, mas para lhe ser sincero ainda não me decidi ao certo o que vou fazer. É claro que gostava de continuar ligado ao futebol e já que sou guarda redes não descarto a hipótese de um dia vir a tornar-me treinador de guarda redes. Primeiramente e se fosse possível, gostava de passar algum tempo a treinar na formação e só depois é que gostaria de passar para o futebol sénior. Mas isto é só uma ideia depois na prática não sei se será isso que vai acontecer. Vamos ver o que se passa até lá, e as portas que se abrem nesse sentido. 

RR: Quais são as grandes diferenças com que um guarda-redes se depara entre a Primeira e a Segunda Liga no Futebol Português?
Rui Rêgo: A grande diferença entre a 1ª e 2ª ligas é essencialmente no que diz respeito à qualidade dos jogadores. Na 1ª divisão, jogam, geralmente, os melhores jogadores que actuam no país, e isso torna a tarefa do guarda redes mais difícil. Na primeira divisão o jogo é muito mais rápido, mais intenso e temos de estar super concentrados pois ao mínimo deslize esses jogadores são capazes de fazer golo. Não podemos, também, esquecer o ambiente nas bancadas que na 1ª divisão é muito melhor, com mais espectadores. 

RR: Quem foi o treinador de guarda-redes que mais o marcou?
Rui Rêgo: Todos os treinadores foram muito importantes no meu crescimento como guarda-redes. De todos tirei ensinamentos muito importantes para as minha carreia. Não gostaria de destacar um em particular para não ser injusto com ninguém. Todos foram importantes e todos me ajudaram imenso e sem eles nunca seria o guarda redes que sou até hoje. 
Imagem @A Bola

RR: Qual foi o jogo que mais marcou a sua carreira?
Rui Rêgo: Houve muitos jogos na minha carreira que nunca me vou esquecer, mas para falar só de 1, o primeiro que me vem à cabeça é sem dúvida a final da Taça de Portugal entre o FCPorto e o GD Chaves. Foi sem dúvida um momento histórico para a minha carreira e também um momento histórico para o clube e para toda a região de Trás-os-Montes. A final da taça é sem dúvida um jogo com uma atmosfera muito diferente e com um simbolismo incomparável. É com enorme prazer que digo que tive a felicidade de disputar uma final da Taça de Portugal e pude sentir toda a atmosfera e todo o simbolismo de jogar no estádio Nacional. É sem dúvida um dos momentos mais marcantes da minha carreira. 

RR: Que história ou episódio que tenha acontecido na sua carreira nos pode contar?
Rui Rêgo: Poucas pessoas devem saber, mas eu, na minha carreira como sénior, já disputei todas as divisões dos campeonatos em Portugal. Desde os distritais, no Vila Fria 1980, uma equipa dos distritais de Viana do Castelo, até a 1 divisão pelo Beira-Mar. E costumo dizer que difícil é jogar nos escalões inferiores onde as condições de trabalho e as condições dos campos em que jogámos são poucas ou nenhumas. Aí sim o futebol é difícil, não tanto pela qualidade dos jogadores, mas pela falta de qualidade dos terrenos que pisámos. Joguei, como já disse, na 1ª liga pelo Beira Mar, na 2ª liga pelo Beira Mar e pelo GD Chaves, na 2ª divisão nacional pelo SC Braga B, Valenciano, Lixa e GD Chaves. Na 3ª divisão nacional pelo Moncorvo, equipa de Torre de Moncorvo, uma vila do interior norte de Portugal. E no Vila Fria 1980 nos distritais de Viana do Castelo. 

RR: A sua permanência no Beira-Mar é um dos tópicos que se renovam nas discussões de pré-temporada. Quando regressou à Segunda Liga com o clube, teve de aceitar alguma redução salarial?

Rui Rêgo: O Beira-Mar e Aveiro já são como a minha casa. Já estou cá há alguns anos e é um clube que gosto muito de representar. É com enorme prazer que jogo aqui, quer seja na 1ª ou na 2ª ligas. É claro que todos aqui no clube temos o objectivo de subir de divisão e colocar o clube no lugar que merece, que é sem dúvida na 1ª divisão. Quando jogador e clube têm interesses em comum é muito fácil chegar a acordo e foi isso que se passou. 

Imagem @RTP

RR: O Rui nunca jogou fora de Portugal. Porquê?
Rui Rêgo: Nunca joguei fora de Portugal porque nunca me apareceu nenhuma proposta que fosse suficiente tentadora, quer em termos monetários, quer em termos de projecto para eu abandonar o nosso futebol. 

RR: Assumindo que não recebe há vários meses - segundo a Imprensa -, qual é a sua motivação para continuar em Aveiro?
Rui Rêgo: O Beira-Mar é um clube que, como muitos em Portugal, vive com dificuldades de que muitas vezes faz das tripas coração para cumprir todas as obrigações que tem. Mas uma coisa também digo, nem tudo o que vem na empresa é verdade e em relação ao Beira-Mar muito do que se escreve é completamente falso. O Beira-Mar vive com problemas, mas eles vão sendo sempre resolvidos para que não vá faltando nada aos seu jogadores. 

RR: O Rui é um dos guarda-redes que contraria o estereótipo de que os guardiões devem ter mais de 1,80m. A altura já lhe provocou entraves ou dissabores? Qual é a sua opinião quanto a este ponto?
Rui Rêgo: É claro que hoje em dia a altura dos guarda-redes é um assunto muito falado, mas na minha opinião o mais importante é a qualidade do guarda-redes, não propriamente a sua altura. Eu pessoalmente nunca senti que a minha altura fosse um entrave na minha carreira. Eu sei bem a altura que tenho e sei bem viver com ela. Já que não sou assim tão alto, tenho de trabalhar outros aspectos importantes no guarda-redes para minimizar essa situação. E é isso que faço sempre em todos os treinos e todos os jogos. Potencializar outros aspectos para minimizar a altura.

Mensagem para O Mundo dos Guarda-Redes

Primeiro queria agradecer o facto de se terem lembrado de mim para esta entrevista. O Mundo dos Guarda Redes é um projecto que sigo quase diariamente e onde encontro informações muito úteis para todos os guarda-redes. O Rivelino está de parabéns por este excelente projecto e para forma séria e profissional com trata esta posição tão especifica que é ser guarda-redes. Um abraço e já agora bom natal e um ano de 2015 cheio de sucessos para todos os guarda-redes.