Rui Patrício em entrevista ao jornal do Sporting


Na semana de regresso do Sporting à Champions League, que terminou num empate a uma bola com o Maribor, na Eslovénia, Rui Patrício foi o protagonista do jornal do clube de Alvalade, protagonizando uma grande entrevista que O Mundo dos Guarda-Redes lhe traz nas seguintes linhas na íntegra.

Jornal Sporting: Hoje em dia, o que representa para si o Sporting?
Rui Patrício: Vim para cá há 13 anos, no segundo ano de infantil. Estou há mais tempo no Sporting do que estive em casa dos meus pais. É a minha segunda casa, mas passei cá mais tempo do que na primeira. Responsáveis do Clube viram-me a jogar, trouxeram-me cá à experiência e acabei por ficar. Hoje, é uma família para mim. Sou muito feliz no Sporting.

JS: Como surgiu o gosto pela posição de guarda-redes?
RP: Comecei por jogar à frente, mas, um dia, o guarda-redes da minha equipa quis trocar. Ele já estava farto de estar na baliza e eu cansava-me rápido a correr como jogador de campo, por isso troquei com ele – gostei e tornei- me guarda-redes.

JS: Qual a importância do guarda-redes numa equipa de futebol?
RP: Ser guarda-redes é um motivo de orgulho. Estamos numa posição diferente dos outros, vestimo-nos de maneira diferente. É uma função única em campo. Só quem é guarda-redes percebe o quão especial é estar entre os postes.

JS: Como é o seu treino?
RP: É atirar-me para o chão praticamente todos os dias (risos). São exercícios muito específicos, mas fantásticos. É muito bom fazer os treinos de guarda-redes com qualidade. Isso também me agarrou à baliza, quando comecei. Cada treinador tem o seu estilo, mas o mais importante é a forma como nos sentimos e vamos evoluindo em cada treino.

JS: Quem era o seu guarda-redes de referência?
RP: Quando era mais novo, admirava quem defendia as redes do Sporting. Quando cheguei estava cá o Schmeichel, o Nélson e o Tiago, por isso, eram as minhas referências. Agora, ter o Nélson como treinador é ainda mais especial. Acompanhei também o Tiago desde miúdo, joguei com ele depois e agora também é treinador. É importante esta proximidade.

JS: Como é a sua relação com os adeptos ‘leoninos’?
RP: É boa. Estou aqui há muitos anos, sou da casa e tenho um carinho enorme pelos adeptos. Respeito-os a eles e ao Clube e penso que sabem disso. Sinto-me apoiado, o que é importante.

JS: Qual a importância do apoio dos adeptos para quem está em campo?
RP: Todos os jogadores gostam de sentir o apoio dos adeptos, mas temos de estar preparados, porque não conseguimos agradar a toda a gente. Quando acontece algo de menos bom, temos de estar preparados e, como equipa, saber reagir. Está relacionado com a maturidade que o jogador tem, com o processo evolutivo e com os erros que vai cometendo. É isso que nos faz crescer enquanto jogadores. Mas claro que o apoio dos adeptos é muito importante. Por exemplo, no último jogo na Luz, os nossos adeptos estavam em menor número mas só os ouvíamos a eles. Assim se vê a diferença de apoiar ou não a equipa e, com essa força dos adeptos, todos os jogadores se sentem melhor e mais motivados.

JS:  Quais são os seus pontos fortes como guarda-redes?
RP: Não sou muito bom a falar das minhas qualidades. Acho que ainda tenho muito para crescer, como guarda-redes e como pessoa. A vida e o futebol vão-nos ensinando algumas coisas e temos de continuar a trabalhar para evoluir. Tenho pontos fortes, mas precisam de ser trabalhados como os outros, para melhorar cada vez mais. Ainda tenho muito para crescer e aprender. Mas a maturidade é um ponto forte para um guarda-redes e tenho-a ganho com os jogos.

JS: O que recorda da sua estreia pela equipa principal do Sporting?
RP: Lembro-me que ganhámos 1-0 e defendi um ‘penalty’. Mas o que mais me marcou foi o facto de jogar pela primeira vez na equipa principal. O resultado e a forma como o conseguimos foram importantes, mas uma estreia é marcante e vou recordar para sempre esse jogo.

JS: O que significa para si ser capitão do Sporting?
RP: Representar o Clube, só por si, já é um orgulho. Envergar a braçadeira do Sporting é um orgulho ainda maior, algo único. Pelos anos que já cá estou e pela forma como conquistei o meu lugar, me comportei e representei o Clube, é um orgulho não só para mim, como também para os Sportinguistas. É importante para os adeptos ter elementos vindos da formação, com muitos anos de casa, como referência.

JS: O peso da braçadeira traz também um aumento de responsabilidade?
RP: É uma responsabilidade positiva. Queremos mostrar os valores do Clube e dar a conhecer aos mais novos o que representa o Sporting. Cabe aos capitães fazer isso e dar o exemplo daquilo que realmente é o Clube.

JS: Há quem defenda que o capitão tem de ser um jogador de campo. O que pensa disso?
RP: Não acho que faça diferença. Qualquer jogador que tenha de falar com o árbitro fala. Não é por estar mais perto ou mais longe que deixa de o fazer. O importante não é a posição, mas sim o estatuto e a postura em campo. Por exemplo, o Casillas e o Buffon são capitães e ninguém põe isso em causa.

JS: Qual a importância de olhar à volta no balneário e ver tantos jogadores com quem jogou nos escalões de formação do Clube?
RP: É muito bom ver onde chegámos, já nos conhecemos desde miúdos. Isto só mostra a qualidade da formação ‘leonina’ e a capacidade de formar não só atletas, mas também homens. E há que dar mérito às pessoas que trabalham nos escalões jovens, que nos trazem para o Clube e que nos passam ensinamentos durante tanto tempo.

JS: O conhecimento que têm uns dos outros acaba por beneficiar o entrosamento dentro de campo…
RP: Claro. E isso também está relacionado com o grupo fantástico que temos. Qualquer jogador que venha para o Sporting introduz-se facilmente na equipa, porque o conjunto assim o proporciona e todos trabalham para que o espírito seja cada vez melhor e para que isso se reflicta em campo.

JS: Como viu o regresso do Nani, jogador formado no Clube?
RP: É muito bom para nós. Tem muita qualidade e uma experiência muito grande a nível de competições europeias. É uma grande mais-valia para nós e conhecer os cantos à casa também ajuda.

JS: Qual a sua opinião sobre os reforços que chegaram no defeso?
RP: Têm muita qualidade. Acabaram de chegar, mas já estão entrosados com a equipa e, como qualquer jogador, têm trabalhado ao máximo para ter a oportunidade de jogar – que há-de surgir. E isto só aumenta a qualidade do grupo, porque assim quem joga também tem de dar sempre mais e o nível da equipa aumenta.

JS: Como capitão, tem um papel especial na integração dos reforços?
RP: Esse papel é de todo o grupo. Cada jogador, mesmo não tendo a responsabilidade de capitão, cumpre essa função. Isso é bom para todo o plantel, porque cria união e faz com que cada jogador se sinta mais importante para a equipa. Aumenta a responsabilidade de todos e só assim o grupo fica mais forte.

JS: Qual a sua opinião sobre Marco Silva?
RP: É boa. Fez um excelente trabalho no Estoril e está a dar continuidade no Sporting. A qualidade do treino reflecte-se na equipa e na sua prestação e todos os jogadores gostam do treinador. Acredito que vamos fazer uma excelente época, porque é um treinador fantástico com muita qualidade e uma grande relação com todos os jogadores. E quando isto acontece, é meio caminho andado para o sucesso.

JS: O Sporting teve 17 convocados para as selecções. Este número reflecte a qualidade do plantel?
RP: É lógico que sim. Temos muitos jogadores na Selecção e isso é notável, porque cada vez há menos atletas no nosso Campeonato a jogar por Portugal. Os outros clubes têm de ver o Sporting como um exemplo.

JS: O Clube conseguiu manter os pilares da equipa no plantel desta época. Isso é importante para vocês?
RP: Claro que sim, é muito importante haver estabilidade e manter jogadores que foram essenciais na época passada. Isso foi conseguido e há que dar mérito à direcção. É muito vantajoso para nós.

JS: Em ano de regresso à Liga dos Campeões, o que espera da competição?
RP: São jogos diferentes, a Champions é única. É uma grande montra e um orgulho enorme para qualquer jogador estar no palco europeu. Queremos aproveitar, desfrutar ao máximo e dar o nosso melhor.

JS: O que achou do grupo do Sporting?
RP: Não podíamos escolher entre muitas equipas. A Champions é para os melhores e, se nós estamos lá, temos de dar o nosso melhor. Acredito que vamos fazer grandes jogos.

JS: Quais os objectivos para esta época?
RP: Primeiro, conquistar o título de campeão nacional. Não só para mim, como para toda a estrutura e para os adeptos. É o que mais queremos.

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