Pegar quatro pênaltis em plena final de um dos maiores torneios do planeta? Impossível? Não, esse feito foi alcançado no dia 7 de maio de 1986 por um estudante de engenharia que deixou os cálculos e a física de lado para se dedicar ao futebol. Seu nome: Helmuth Duckadam, que é conhecido até hoje na Romênia como o “Herói de Sevilha”.
Helmuth Duckadam nasceu em 1º de abril de 1959 em Semlac, no condado de Arad. Começou sua carreira em times amadores da região de Arad como o Semlecana Semlak e o Constructorul Arad, desde cedo chamando atenção por sua agilidade debaixo das traves. Em 1978, fez sua estréia no esporte profissional, assumindo as cores do UTA Arad. Durante quatro temporadas Duckadam defendeu o clube, e mesmo atuando por uma equipe menor as boas suas boas aparições chamaram a atenção de muita gente. Em 1980, Duckadam foi decisivo na ascensão do UTA Arad para a 1ª divisão romena, e em 1982, o atleta foi convocado duas vezes para a seleção romena – o que acabou sendo o pretexto perfeito para os dirigentes do Steaua Bucareste, que contrataram o goleiro para defender a camiseta dos. Estranhamente, ele nunca mais foi convocado para a seleção romena, o que não deixa de ser curioso. Duckadam defendeu o Steaua por exatos 80 jogos, e com eles conquistou o maior título de clubes da história da Romênia: a Taça dos Campeões(atual Liga dos Campeões) de 1986. Durante toda a jornada, o Duckadam foi muito importante, passando segurança aos companheiros com suas intervenções sempre seguras e atemorizando os adversários com seu olhar severo e seu bigode intimidador. Mas todas as defesas seguras e trombadas truculentas tiveram seu auge na noite fatídica de 7 de maio de 1986, quando o Steaua enfrentou o todo-poderoso Barcelona em um Ramón Sánchez Pizjuán (estádio do Sevilha) lotado e conquistou a taça antes tida como impossível.
Duckadam, em façanha até hoje difícil de acreditar, defendeu todas as quatro cobranças efetuadas pelo Barcelona (Alexanko, Pedraza, ‘Pichi’ Alonso e Marcos), garantindo praticamente sozinho a vitória de 2 a 0 nos tiros livres e a conquista inédita para o futebol romeno. O mais inacreditável é que pouco tempo depois dessa inesquecível final, Duckadam, com apenas 27 anos, deixou de jogar futebol. Segundo parece, depois de sofrer uma trombose que deixou parcialmente paralisado o lado direito do seu corpo. Houve na altura especulações acerca do que o regime de Ceausescu lhe teria feito para o impedir de se transferir para uma equipa de um país ocidental. O Steaua de Bucareste não era uma equipa qualquer na altura, e não foi por acaso que ganhou essa final e que dois anos mais tarde alcançaria a meia-final da Taça dos Campeões (eliminado pelo Benfica) e em 1988/89 a final (derrota com o AC Milan). Era a equipe patrocinada pelo Ministério da Defesa romeno e naquele tempo era tão impensável ver um futebolista de um país comunista transferir-se para um clube ocidental como imaginar o Benfica alguma vez entrar em campo sem um único jogador português. Falou-se em vários clubes italianos, nomeadamente a Juventus, mas já se sabe como são estas coisas.
Em 1989 ainda voltou a fazer uns jogos, num clube da segunda divisão romena, o modesto Vagonul Arad. Mas até isso torna ainda mais gloriosa aquela noite de 7 de Maio de 1986.
“Estava tudo em minhas mãos na hora das penalidades. Alexanko bateu o primeiro pênalti. Eu decidi ir para a direita e ele chutou para a direita, então consegui evitar o gol. A segunda cobrança foi menos simples. Eu tentei pensar como Pedraza. Ele deveria estar pensando que, já que eu tinha defendido uma bola na direita, eu dessa vez tentaria pular para a esquerda. Então ele chutou na direita e eu consegui defender a segunda cobrança também. A terceira cobrança, de Pichi, foi mais fácil. Qualquer goleiro que defenda duas bolas à sua direita irá certamente para a esquerda na terceira cobrança. Então ele optou pela direita e eu fui para a direita e defendi a terceira penalidade. Com a quarta cobrança, eu tinha um problema. Eu tinha sérias dúvidas sobre o que Marcos iria fazer – se ele ia copiar o terceiro ou tentar chutar na esquerda. Eu decidi mudar de lado e optar pela esquerda dessa vez. E Marcos também escolheu esse lado”. (Helmuth Duckadam)
Siga O Mundo dos Guarda-Redes nas redes sociais